sábado, 23 de novembro de 2013

Coração Poeta

Veja esse vendaval que está caindo ali, olhe pela sua janela, observe... atentamente! Não desse jeito, olhe de novo, viu? Pois é, ele está levando tudo, levando as flores caídas sob o chão, levando a poeira embora, as folhas dançam ao embalo das batidas do vento... Não é melancolicamente bonito e triste? Sim sim, bonito e triste mesmo... isso que eu disse, é bonito porque provoca um reboliço estranhamente harmonioso onde o grande poderio da natureza se manifesta, e é triste porque... porque mudanças são tristes, não acha? Você devia aprender a enxergar a poesia em tudo isso, devia aprender a enxergar que a vida é um soneto de Vinicius de Moraes  eterna enquanto dura, ou devia aprender com Pessoa que só de ouvir o vento passar vale a pena ter vivido, e olhe, o vento está passando, e levando tudo, tudo, tudo... Inclusive isso tudo que eu senti, ou que eu estou sentindo. Voa vento, aproveite sua liberdade de poder provocar mudanças, arrepios, nostalgias e poder ir embora, sem culpa, aproveite, não são todos que conseguem ter essa genuína liberdade, e aproveite e leve embora o peso do meu coração, leve meu coração com você... e espalhe-o aos quatro cantos do mundo, sem culpa, apenas espalhe-o, leve consigo ele e que no decorrer da viagem ele possa transbordar amor aos povos, pois eu amo pessoas... amo mesmo,  amizade aos perdidos e também melancolia aos poetas, melancolia porque é ela a obra prima da revelação das palavras, que se encaixam indiscriminadamente uma nas outras, da mesma forma que o céu toca o mar com um beijo, das palavras que revelam aquilo que é impossível dizer, das palavras que mostram a poesia que é a vida, a poesia que você não consegue enxergar... mas vento, por favor, que meu coração, continue sendo MEU CORAÇÃO em sua essência, espalhe-o para onde for, leve-o consigo, faça bom proveito... mas me devolva, um dia. Porque um dia eu irei precisar dele novamente, nem que seja para enxergar a poesia onde outros olhos não possam ver, ou sonhando alto, irei precisar para enxergar a poesia com outro coração que também a enxerga. Vai vento, voa, sinta a liberdade de tocar as árvores, os corações, e os amores e ir embora sem culpa, vai vento... corre de encontro ao meu amor, que nem eu sei quem é, e diga-lhe que um dia devolverá meu coração, para que eu e ele possamos enxergar a poesia juntos, por favor, diga-lhe isso, para que ele não fique preocupado com a falta de outro coração poeta. Vai vento, quem sabe um dia por ai, perdida em qualquer esquina, em qualquer pensamento ou em qualquer poesia, eu não te encontre  lendo um jornal, tomando um café e me perguntando ‘ Você reparou como o céu está pura poesia essa noite?’. Mas agora vento, só vai, sem olhar para trás, sem se arrepender, porque você não tem uma justificativa para isso, você só precisa ir, e deixar tudo bagunçado por aqui, que eu vou arrumando, enquanto você espalha a minha poesia por ai. Mas agora,Vai. Eu estou bem, eu juro.





Ana L. Menon

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