Veja esse vendaval que
está caindo ali, olhe pela sua janela, observe... atentamente! Não desse jeito,
olhe de novo, viu? Pois é, ele está levando tudo, levando as flores caídas sob
o chão, levando a poeira embora, as folhas dançam ao embalo das batidas do
vento... Não é melancolicamente bonito e triste? Sim sim, bonito e triste
mesmo... isso que eu disse, é bonito porque provoca um reboliço estranhamente
harmonioso onde o grande poderio da natureza se manifesta, e é triste porque...
porque mudanças são tristes, não acha? Você devia aprender a enxergar a poesia
em tudo isso, devia aprender a enxergar que a vida é um soneto de Vinicius de
Moraes eterna enquanto dura, ou devia
aprender com Pessoa que só de ouvir o vento passar vale a pena ter vivido, e
olhe, o vento está passando, e levando tudo, tudo, tudo... Inclusive isso tudo
que eu senti, ou que eu estou sentindo. Voa vento, aproveite sua liberdade de
poder provocar mudanças, arrepios, nostalgias e poder ir embora, sem culpa,
aproveite, não são todos que conseguem ter essa genuína liberdade, e aproveite
e leve embora o peso do meu coração, leve meu coração com você... e espalhe-o
aos quatro cantos do mundo, sem culpa, apenas espalhe-o, leve consigo ele e que
no decorrer da viagem ele possa transbordar amor aos povos, pois eu amo
pessoas... amo mesmo, amizade aos
perdidos e também melancolia aos poetas, melancolia porque é ela a obra prima
da revelação das palavras, que se encaixam indiscriminadamente uma nas outras,
da mesma forma que o céu toca o mar com um beijo, das palavras que revelam
aquilo que é impossível dizer, das palavras que mostram a poesia que é a vida,
a poesia que você não consegue enxergar... mas vento, por favor, que meu
coração, continue sendo MEU CORAÇÃO em sua essência, espalhe-o para onde for,
leve-o consigo, faça bom proveito... mas me devolva, um dia. Porque um dia eu
irei precisar dele novamente, nem que seja para enxergar a poesia onde outros
olhos não possam ver, ou sonhando alto, irei precisar para enxergar a poesia
com outro coração que também a enxerga. Vai vento, voa, sinta a liberdade de
tocar as árvores, os corações, e os amores e ir embora sem culpa, vai vento...
corre de encontro ao meu amor, que nem eu sei quem é, e diga-lhe que um dia
devolverá meu coração, para que eu e ele possamos enxergar a poesia juntos, por
favor, diga-lhe isso, para que ele não fique preocupado com a falta de outro
coração poeta. Vai vento, quem sabe um dia por ai, perdida em qualquer esquina,
em qualquer pensamento ou em qualquer poesia, eu não te encontre lendo um jornal, tomando um café e me
perguntando ‘ Você reparou como o céu está pura poesia essa noite?’. Mas agora
vento, só vai, sem olhar para trás, sem se arrepender, porque você não tem uma
justificativa para isso, você só precisa ir, e deixar tudo bagunçado por aqui,
que eu vou arrumando, enquanto você espalha a minha poesia por ai. Mas
agora,Vai. Eu estou bem, eu juro.
?
Ana L. Menon