sábado, 18 de janeiro de 2014

Procura-se





Se soubessem as crianças que crescer não é tão fácil assim jamais desatariam o laço que as une com a infância. Se soubessem que crescer  tantas vezes é angustiante, essa vontade de acertar e acabar errando sempre melam com tudo, se ao menos pudessem supor o quanto é lindo viver sem preocupações, o quanto é lindo poder se dar ao direito de confiar cegamente nas pessoas, o quanto é aconchegante não ter que acordar em um dia e se dar conta que daqui pra frente depende tudo de você. Essa poderia ser uma crônica que brindasse a saudades da infância, ou apenas uma tentativa peculiarmente minha de  tentar  procurar nas palavras um pedaço nostálgico desta, de um tempo que não volta mais. Mas acho que por fim, é somente uma forma de deixar o orgulho de lado e reconhecer que o brilho do amadurecimento traz consigo uma série de coisas que talvez não brilhem tanto assim... mas tínhamos pressa de crescer, e hoje temos somente vontade de ser quem éramos. De procurar. Mas não dá. Já procurei em canções nunca terminadas, em textos mal escritos, em cartas sem destinatários, em amores que nunca deram certo. Procurei por debaixo dos cobertores, da minha cama e ansiei que talvez pudesse estar perdido dentro dos meus cadernos, revirei tudo... e foi nessa tentativa que me dei conta que procurar sem nem saber o que ao certo é uma forma inútil de deixar tudo um caos. Revirei meu passado, tão doce... mas o sabor amargo dessa doçura ficou em minha boca por saber que não se deve olhar tanto para trás, e mesmo assim... dona de uma teimosia irreverente, olhar. Tive então minha última tentativa, escrevi em placas bem grandes, e colei em cada esquina. Procura-se. Dá-se Recompensa. 

PROCURA-SE O QUE MEU BEM?
- Uma pessoa?
- Um sonho?
- Uma lembrança?
- Um peito para descansar?
- Uma resposta?

Procura-se o que meu bem... procura-se em vão, é eterna essa procura... não de mais nada relacionado aos outros, mas relacionado ao meu próprio eu, e foi ai que me dei conta de quem eu andava procurando. Procurava eu mesma, bobeira! Afinal, é vaga minha procura, pois sou produto de cada dia vivido e de cada dia que deixo de viver, sou produtos da doçura e do amargor que a vida traz consigo, produto de uma briga constante entre razão e emoção.  Não há um dia que delimite somente eu ter me tornado quem sou, portanto não há resposta. Só perguntas. Perguntas que remetem ao ontem, ou ao amanhã, mas nunca ao hoje, já reparou? Perguntas por ora tão sem sentidos. Tão tristes. Tão felizes. Compostas de uma dualidade de ideais fragmentados, que colaboram para a sensação de desamparo.

Procura-se... Pról - CURA-se. A Cura seja talvez  parar de querer conhecer a verdade do ontem e do amanhã, e buscar a viver a verdade que o hoje tem me oferecido.  Há propostas sem sentidos que de tanto serem almejadas, encobrem o sútil propósito que a vida nos oferece todo santo dia... que é o de parar buscar entender quem sou, e apenas ser. Ser. Com toda a essência que esta palavra carrega consigo.  


Ana Laura Menon

sábado, 23 de novembro de 2013

Coração Poeta

Veja esse vendaval que está caindo ali, olhe pela sua janela, observe... atentamente! Não desse jeito, olhe de novo, viu? Pois é, ele está levando tudo, levando as flores caídas sob o chão, levando a poeira embora, as folhas dançam ao embalo das batidas do vento... Não é melancolicamente bonito e triste? Sim sim, bonito e triste mesmo... isso que eu disse, é bonito porque provoca um reboliço estranhamente harmonioso onde o grande poderio da natureza se manifesta, e é triste porque... porque mudanças são tristes, não acha? Você devia aprender a enxergar a poesia em tudo isso, devia aprender a enxergar que a vida é um soneto de Vinicius de Moraes  eterna enquanto dura, ou devia aprender com Pessoa que só de ouvir o vento passar vale a pena ter vivido, e olhe, o vento está passando, e levando tudo, tudo, tudo... Inclusive isso tudo que eu senti, ou que eu estou sentindo. Voa vento, aproveite sua liberdade de poder provocar mudanças, arrepios, nostalgias e poder ir embora, sem culpa, aproveite, não são todos que conseguem ter essa genuína liberdade, e aproveite e leve embora o peso do meu coração, leve meu coração com você... e espalhe-o aos quatro cantos do mundo, sem culpa, apenas espalhe-o, leve consigo ele e que no decorrer da viagem ele possa transbordar amor aos povos, pois eu amo pessoas... amo mesmo,  amizade aos perdidos e também melancolia aos poetas, melancolia porque é ela a obra prima da revelação das palavras, que se encaixam indiscriminadamente uma nas outras, da mesma forma que o céu toca o mar com um beijo, das palavras que revelam aquilo que é impossível dizer, das palavras que mostram a poesia que é a vida, a poesia que você não consegue enxergar... mas vento, por favor, que meu coração, continue sendo MEU CORAÇÃO em sua essência, espalhe-o para onde for, leve-o consigo, faça bom proveito... mas me devolva, um dia. Porque um dia eu irei precisar dele novamente, nem que seja para enxergar a poesia onde outros olhos não possam ver, ou sonhando alto, irei precisar para enxergar a poesia com outro coração que também a enxerga. Vai vento, voa, sinta a liberdade de tocar as árvores, os corações, e os amores e ir embora sem culpa, vai vento... corre de encontro ao meu amor, que nem eu sei quem é, e diga-lhe que um dia devolverá meu coração, para que eu e ele possamos enxergar a poesia juntos, por favor, diga-lhe isso, para que ele não fique preocupado com a falta de outro coração poeta. Vai vento, quem sabe um dia por ai, perdida em qualquer esquina, em qualquer pensamento ou em qualquer poesia, eu não te encontre  lendo um jornal, tomando um café e me perguntando ‘ Você reparou como o céu está pura poesia essa noite?’. Mas agora vento, só vai, sem olhar para trás, sem se arrepender, porque você não tem uma justificativa para isso, você só precisa ir, e deixar tudo bagunçado por aqui, que eu vou arrumando, enquanto você espalha a minha poesia por ai. Mas agora,Vai. Eu estou bem, eu juro.





Ana L. Menon

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Que país é esse?

     "...Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação, Que país é esse?..." Tocava esse trecho da musica no rádio, um radiozinho velho, escafiotado... eu acomodada em minha cama, meus pensamentos, e pensando bem, porque não dizer, acomodada em minha vida? 
     Minha mãe surdinamente repete : "Que país é esse?", uma interrogação, pairava no ar, e com toda a humildade de meu pobre ser, indaguei-me, "O país está nessa situação hoje, não seria também por minha causa?" Meu conforto e minha comodidade, me responderam que não, mas lá, no âmago de minha alma, algo gritava a mim, que sim. 
      O país está corrompido, pela falta de ideais, pela falta de caráter e honestidade, pelo medo, minha alma está corrompida. Analiso o sistema do Brasil, vejo novamente, a corrupção florescendo, o governo roubando, tomando para si o trocado, que chamam de salário, trocado este, que era pra ser reinvestido, em educação, saúde, saneamento... mas pelo visto, para se ter dignidade em nosso país, precisa-se pagar. Irônico
      Não culpo somente o governo por essa situação em que vivemos hoje. Culpo a mim, e a todos nós, que deixamos o medo e o conformismo nos cegar e nos calar, mas e se eu não me calar diante da corrupção? Denunciar tudo o que eu sei, que é ilícito, cobrar os meus direitos, averiguar onde meu dinheiro está sendo investido... e se cada um de nós fizéssemos isso? E saíssemos de nossas vidas cômodas... e se? Futuro do Pretérito? Em minha vida já chega, levanto-me agora de minha cama, e saio à luta, não deixarei minha alma se corromper... depende somente das MINHAS atitudes. 


                                                                                                                           @anamenoon